#2 Girando a Ampulheta

A segunda edição do Ampulheta do Saber apresenta um jovem que já foi presidente, medalhista internacional em olimpíadas de física e astronomia, um exímio gaitista e está ingressando em 2023 na Universidade de Chicago! Caros leitores e leitoras, conheçam Ualype (lê-se Uálipe).

[Amps] Começando do começo: Como você se envolveu nas olimpíadas científicas? O que motivou você a participar dessas competições? 

[Ualype] Comecei falhando miseravelmente em olimpíadas de matemática, já no sexto ano, quando desisti de ir para as aulas no meu colégio depois de algumas semanas. Só depois de uns anos, me envolvi pra valer na física e na astronomia, que foi onde me encontrei. Sobre a motivação, com certeza a vontade de querer ir além do currículo de base. Além disso, eu sempre demonstrei um interesse grande por ciências exatas de modo geral. Queria levar isso além e me divertir, me aprofundando cada vez mais nas coisas que eu gostava (e, de brinde, poder ser recompensado por isso).

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

[Amps] Além da ciência, você poderia nos contar sobre um hobby ou atividade que você gosta bastante de fazer?.

[Ualype] Atualmente tô tentando ser um rato de academia. Fora isso, costumo ler livros e quadrinhos, jogar videogame e já faz um tempinho que me divirto demais aprendendo algumas coisas no violão e na gaita. Também curto muito cantar  (canto toda hora em casa haha) para extravasar as emoções!

[Amps] Qual é o maior mito que as pessoas têm sobre as olimpíadas científicas e como você acha que isso pode ser desmistificado?

[Ualype] Vou extrapolar e falar de duas coisas (perdão!). Primeiro, que o ambiente olímpico é só sobre competitividade. Da minha experiência e de muitos outros amigos, isso definitivamente não é verdade, especialmente quando você encontra uma comunidade olímpica à qual você pertence. É muito mais sobre todo mundo crescer junto, e se ajudar a chegar lá no topo. Segundo: “É perda de tempo, melhor focar no vestibular e garantir a vaga na faculdade.” Primeiro que, hoje em dia, você pode até entrar na faculdade por meio de olimpíadas, como as vagas olímpicas da UNICAMP, por exemplo. Além disso, olimpíadas te dão uma bagagem acadêmica e intelectual (e até mesmo social!) ENORME, abrindo não só a sua mente, mas portas ainda maiores na sua vida; basta olhar a quantidade de estudantes brasileiros que tiveram suas vidas transformadas por olimpíadas e que acabaram até saindo do país para estudar nas melhores faculdades do mundo!

Arquivo pessoal
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[Amps] Você tem algum hábito peculiar ou ritual que segue antes das competições?

[Ualype] Acho que o meu hábito é não ter um hábito rs. Mas, na verdade, eu tive um hábito ruim, durante um bom tempo: morrer de estudar na véspera da prova. Não diria que me atrapalhou exatamente, mas certamente não é uma das coisas mais saudáveis… Não recomendo muito, mas pode ser que funcione pra uma ou outra pessoa.

[Amps] Se você pudesse mudar algo sobre as olimpíadas científicas, o que seria e por quê?

[Ualype] O fato que ainda é uma realidade distante para muita gente. Espero que cada vez mais pessoas consigam ter acesso à essas competições, e que possam ter suas vidas positivamente marcadas por elas assim como eu tive.

[Amps] GeCAA, IOAA e IPhO - a lista de medalhas é impressionante! Parabéns pelas suas conquistas! Gostaríamos de saber mais sobre o seu processo de crescimento acadêmico. Você pode nos contar qual medalha você considera que tenha tido o maior impacto em sua vida acadêmica e por quê?

[Ualype] A princípio eu diria que foi o bronze na IPhO, por ser a conquista de um sonho fruto de um trabalho árduo de basicamente 3 anos, que começou na OBF. Hoje, no entanto, vou celebrar a minha primeira medalha na OBF: meu ouro no 9º ano, a fundação de tudo. Ainda me lembro de quando recebi a notícia de algo que, para mim de poucos meses antes, não parecia possível. Mas mesmo assim, eu fui atrás. Foram muitas aulas, mestres, amigos, professores e familiares  que foram necessários para trazer aquela medalha. No oitavo ano eu não tinha passado nem para a terceira fase, então voltar lá 1 ano depois com um ouro no comeback me lembrou também do quanto eu consegui evoluir em um ano. Ali, meu sonho, que já estava vivo e pulsando, tomou uma nova forma. Era a hora de entrar de cabeça em mais uma etapa e enfrentar a seletiva de Física, tendo agora aberto a porta da escadaria para a IPhO.

[Amps] Considerando sua participação no Prep Estudar Fora em 2022, que ofereceu diversas ferramentas para auxiliar no processo de application para universidades nos Estados Unidos, qual recurso específico você considera ter sido o mais valioso para a sua preparação e que não trocaria por nada?

[Ualype] Objetivamente falando, a ajuda com essays proporcionada pelo meu mentor e minha app specialist foram impecáveis; eu certamente não teria conseguido sem a equipe do prep. Porém, a comunidade de estudantes é algo que você não vai encontrar em nenhum outro canto. É uma pequena amostra de pessoas fantásticas, em todos as áreas e sentidos. O prep me trouxe amigos incríveis, e o apoio coletivo que a gente tinha uns dos outros no programa, as calls da madrugada escrevendo essay e falando da vida, surtar no grupo… tudo isso foi muito importante para me manter nos eixos nesse último ano. 

[Amps] Você foi recentemente aprovado na Universidade de Chicago, uma das universidades mais renomadas dos Estados Unidos. O que você espera obter com a experiência acadêmica e cultural que terá em Chicago?

[Ualype] Não vou exatamente criar MUITAS expectativas, pois quero ser surpreendido (de forma positiva, espero eu), mas… Vai ser bizarro pra caramba estudar com pessoas de todo o mundo em uma universidade desse tamanho. Acho que vou aprender um pouquinho de algumas culturas por aí, e com certeza minha mente vai se abrir nesse sentido. Espero fazer muitos amigos mesmo e me envolver em várias atividades, desde coisas que eu já gosto até locais em que eu não esperaria estar exatamente hehe! Academicamente falando, vou “dar o gás” demais na física, obviamente. UChicago é incrível na área de cosmologia, que é um dos meus interesses principais. Fora isso, com certeza o Core Curriculum (aulas em humanidades, ciências sociais e da natureza, etc. que todos precisam fazer) vai me proporcionar algum novo interesse e me fazer ganhar maturidade em muita coisa acerca das quais ainda sou bem leigo. Vai ser divertido!

[Amps] Sabemos que o processo de application para universidades estrangeiras é muito exigente. Se você tivesse que eliminar uma etapa do processo qual seria e por quê?

[Ualype] Por puro ranço, entrevistas, já que não gosto muito delas, acho que todo o resto da application já dá uma BOA noção do candidato… mas é uma parte bem pequena do processo comparado a tudo que você precisa fazer. Se for sem pensar nas consequências exatas do que iria acontecer… eu facilmente tiraria as essays. Algumas poucas dão gosto de escrever, mas no geral, para mim, foi desgastante hahaha. Gasta muito tempo e nenhum sentimento se compara àquele bloqueio criativo que dá quando é 4h da manhã e você não consegue escrever mais nenhuma linha. Há quem goste bastante das essays, infelizmente esse não sou eu.

[Amps] Se fosse possível viajar no tempo, qual seria a descoberta ou experimento na história da física que você gostaria de presenciar e por quê?

[Ualype] A graciosa queda da maçã na cabeça do Newton. Definitivamente um momento que mudou o curso da história (caso ele tenha acontecido).

[Amps] Aos 19 anos, você Ualype, já foi presidente! Ilustríssimo ex-presidente do NOIC, você poderia nos dizer o que você mais se orgulha de ter realizado nesses anos de trabalho voluntário?

[Ualype] Tenho que dizer que só de saber que eu já ajudei pelo menos uma pessoa em algum momento nesse processo já traz aquele sentimento recompensador. Mas pra falar de forma mais objetiva, desde 2020 produzimos materiais como nunca. Na física, foram MUITAS ideias, problemas da semana, simulados e resolvemos várias e várias provas da OBF. E olha, diria que o padrão de qualidade dos materiais aumentou BASTANTE–e espero que continue assim nos próximos anos! Além disso, o acesso ao site vem crescendo absurdamente desde então; é mais do que gratificante saber que mais gente pelo Brasil tá descobrindo o projeto e usufruindo de tudo que temos a oferecer. Ah, e vem novidade por aí…

[Amps] Se você pudesse escolher um superpoder, qual seria e por quê?

[Ualype] Teleporte, com certeza. Talvez seja bastante pela preguiça, mas muito mais pela quantidade inimaginável de praticidade que traria à vida. Só imagina estar deitado, piscar, pegar um lanche na cozinha, piscar de novo e se encontrar de novo no conforto da cama: simplesmente perfeito. 

[Amps] Espalhar conhecimento é tudo de bom! Se você pudesse dar só uma dica para os novos olímpicos, qual seria?

[Ualype] A dica já tá na pergunta haha, espalhe conhecimento! Ajude quem precisa nessa jornada!  Todo mundo vai lembrar daqueles que pegaram o melhor resultado… mas aquele que pegou o melhor resultado, ajudou e fez um impacto especial sobre a vida de quem passou no caminho dele… esse entra não só pra história, mas vive no coração dessa galera. Tenho muitos amigos que guardo no peito com esse exato sentimento. Seja humilde, e sempre busque ser um exemplo pros seus colegas olímpicos! 

Arquivo pessoal

Sim, eu sei mesmo após mais de 10 perguntas para o nosso querido Ualype, você ainda está curiosos para saber mais. 

Para seguir acompanhando a história de Ualype, basta segui-lo em:

@ualypeandrade

Nós sabemos! A vida é corrida e às vezes não conseguimos ler muito, mas a equipe do ampulheta pode te ajudar. No nosso instagram, temos um post que faz referência a essa edição do Girando a Ampulheta e nela você encontra o resumo da nossa conversa. 

@ampulhetadosaber

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