Na nossa primeira edição do Girando a Ampulheta, nada mais justo que conversar com uma das fundadoras do Ampulheta do Saber (ou Amps para os mais próximos) sobre o início do projeto, sua jornada olímpica e muito mais. Sem mais demoras, aqui está a nossa conversa na íntegra com Katarine Klitzke.

[Amps] Começando do começo: De onde veio a sua paixão pelas Olimpíadas? 

[Katarine] Minha paixão pelas Olimpíadas veio ao longo do tempo. Eu vim de uma região onde as Olimpíadas científicas não eram muito uma realidade e não faziam parte da cultura local. As pessoas faziam as provas porque as escolas se inscreviam. Eu estudava em escola pública, então o colégio era meio que obrigado a nos inscrever nas Olimpíadas. Através disso, fomos conhecendo um pouco mais sobre as competições.

Comecei com a Obmep e, na primeira prova, percebi que existia um outro conteúdo de matemática que não era simplesmente o que estava em sala de aula. Muitas vezes, aquele conteúdo era muito mais prático, aplicável no dia a dia e divertido de resolver os problemas. Minha paixão foi crescendo mais quando conheci mais pessoas que também gostavam das mesmas matérias que eu: gostavam de matemática, gostavam de ciências e tinham uma paixão por fazer além do que era mostrado em sala de aula. Isso através dos programas de iniciação científica, como o PIC da Obmep e as próprias premiações, em que víamos que outros alunos estavam interessados e também estávamos sendo reconhecidos, foram momentos muito legais.

[Amps] Astronomia é simplesmente fascinante! E você, o que mais te encanta nessa ciência que estuda corpos celestes assustadoramente grandes, como estrelas, planetas, galáxias e até mesmo buracos negros? Conte-nos sobre sua paixão pela astronomia.

[Katarine] Nossa segunda pergunta difícil, viu? “O que mais me encanta na astronomia”. É que sou muito apaixonada por todas as áreas. Mas acho que o que mais gostei foi a parte de cosmologia, que é a história do universo e a evolução. Justamente porque você tá lidando com objetos muito antigos, coisas que sabemos que não existem mais, e a gente consegue vê-las ainda hoje. Toda essa perspectiva da noção do tempo é algo mágico. E usar a ciência que temos hoje, que na verdade é um conhecimento que vem do passado mas só conseguimos detectar hoje, para fazer previsões do que existe hoje. Então, isso eu acho uma coisa muito legal: usar o passado, que é o nosso presente pra gente hoje pra conseguir determinar o futuro pra gente, que na realidade é o presente hoje.

Minha paixão pela astronomia surgiu quando eu era pequena, em dois momentos. O primeiro foi quando eu estava acampando com os escoteiros em lugares mais remotos, E como eu era cidade do interior, íamos onde conseguimos ver claramente a via láctea e todas as estrelas e isso era algo muito bacana que me atraía muito. O segundo foi quando eu estava no segundo ano do ensino fundamental, tive uma noite de pijama na escola, e um professor levou um telescópio. Foi quando vi, pela primeira vez, muitas estrelas juntas e percebi que elas não eram simplesmente brancas ou amarelas, mas que existiam outras cores, inclusive binários coloridos. Aquilo para mim foi muito mágico, e me despertou ainda mais curiosidade para entender o que mais havia no universo e que eu ainda não tinha visto.

[Amps] Se você pudesse voltar no tempo e mudar algo em sua jornada olímpica, o que seria?

[Katarine]  Se eu pudesse voltar no tempo, eu mudaria algumas coisas na minha jornada olímpica. A primeira delas é que, antes de realmente focar em estudar, eu teria procurado entender qual é o melhor método para eu estudar. Passei muitos anos da minha carreira olímpica estudando de um modo que não era o mais eficiente para mim, mas sim o melhor para muitas pessoas: indo para as aulas e copiando tudo. Depois de muitos anos de Olimpíada, percebi que o método que funcionava para mim era ir para a aula e não copiar nada. Isso é algo importante, pois cada pessoa tem um modo de aprendizagem diferente.

A segunda coisa que eu mudaria é ficar aberta a todas as oportunidades. Não é porque comecei minha carreira olímpica na matemática que tenho que ir para a Olimpíada Internacional de Matemática. Se eu tivesse aberto minha cabeça para as outras Olimpíadas antes, talvez teria tido mais oportunidades.

[Amps] Agora uma pergunta mais descontraída. Imagine que você pudesse levar apenas um objeto para uma missão espacial de longa duração, o que seria? Considere que todos os equipamentos técnicos e de sobrevivência já estão em sua nave.

[Katarine]  Assim, eu nunca fui uma pessoa muito apegada a objetos em si. Eu sou muito apegada a pessoas, então, objetos, eu não teria nenhum que eu pensasse. “Nossa, eu preciso levar isso”. Até porque eu já fiz muitas mudanças na minha vida – mudei já quatro vezes –  então assim, minha vida se resume a duas malas, em termos de, de objetos, né?

Mas se tivesse uma coisa que eu levaria, provavelmente seria uma máquina fotográfica. Quem me conhece sabe que eu adoro fotografia, é um dos meus hobbies favoritos. Eu gosto muito de fotografia quanto astrofotografia, mas também de registrar as coisas e contar histórias depois, e mostrar para as pessoas. Então, se você olhar o meu Instagram hoje, eu tenho muito conteúdo que eu faço justamente para compartilhar com as pessoas, trazer conhecimento. E eu acho que estando no espaço, tendo uma máquina fotográfica, eu poderia registrar muitas coisas que muitas pessoas não poderiam ter a oportunidade de ver. E com a máquina fotográfica poderia proporcionar isso para outras pessoas quando eu voltasse.

[Amps] Se você fosse um planeta, qual seria e por quê?

[Katarine]  Por muitos anos, eu considerei muitos outros planetas como os meus favoritos, mas acho que depois de entrar para uma carreira acadêmica e estudar tudo a fundo – seja a parte geológica, a formação, a atmosfera ou a possibilidade de vida. Por todas essas questões e não só pela beleza de olhar apenas uma foto, eu escolheria o planeta Terra. Primeiro, porque ele tem vida, e eu acho a vida algo mágico. Segundo, as nossas paisagens e a geografia que temos aqui são inimagináveis. Eu já tive a oportunidade de conhecer muitos lugares no mundo, mas ainda faltam muitos, e cada vez me fascina mais. Eu acho que um dos meus hobbies hoje em dia é viajar o mundo justamente para olhar e explorar o que temos aqui. E tenho muita vontade de, por exemplo, ir para o espaço e conhecer o universo. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho muita vontade de olhar tudo o que temos aqui dentro antes de olhar tudo lá fora.

[Amps] Queríamos te dar os parabéns por ter conquistado a medalha de ouro na 10ª OLAA! Arrasou demais! Conte para a gente como foi a sua experiência na Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica! Desde a preparação para a competição até a emoção de subir ao pódio, como foi lidar com os desafios da competição? E como é a sensação de representar o Brasil em um evento internacional tão importante?

[Katarine]  Minha preparação para a Olimpíada foi bem intensa. Comecei com o nível básico de astronomia basicamente no mesmo ano em que fui para a Olimpíada Internacional. Eu não tinha um background de física muito avançado. Como já mencionei durante muitos anos da minha vida, insisti na matemática, o que foi muito importante pra mim, mas em todas as outras partes que tínhamos que estudar, eu tive bastante dificuldade. 

Então, foi muito importante para mim ter tido um grupo de estudo, ter tido amigos que estavam fazendo o processo junto e criar conexões para que a gente evoluísse junto. Cada um ajudava o outro de uma forma diferente.

Eu acho que algo que também foi muito  importante para minha preparação foi eu não colocar pressão em cima de mim. Na matemática, sempre tinha muita pressão para cima de mim, comigo mesmo. 

[Amps] Queríamos te dar os parabéns por ter conquistado a medalha de ouro na 10ª OLAA! Arrasou demais! Conte para a gente como foi a sua experiência na Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica! Desde a preparação para a competição até a emoção de subir ao pódio, como foi lidar com os desafios da competição? E como é a sensação de representar o Brasil em um evento internacional tão importante?

[Katarine]  Minha preparação para a Olimpíada foi bem intensa. Comecei com o nível básico de astronomia basicamente no mesmo ano em que fui para a Olimpíada Internacional. Eu não tinha um background de física muito avançado. Como já mencionei durante muitos anos da minha vida, insisti na matemática, o que foi muito importante pra mim, mas em todas as outras partes que tínhamos que estudar, eu tive bastante dificuldade. 

Então, foi muito importante para mim ter tido um grupo de estudo, ter tido amigos que estavam fazendo o processo junto e criar conexões para que a gente evoluísse junto. Cada um ajudava o outro de uma forma diferente.

Eu acho que algo que também foi muito  importante para minha preparação foi eu não colocar pressão em cima de mim. Na matemática, sempre tinha muita pressão para cima de mim, comigo mesmo. 

Quando eu estava na astronomia, como eu não tinha nenhum background, minhas chances eram muito baixas de conseguir ir para uma internacional e, além disso, tinham pessoas muito melhores do que eu, que tinham muito mais conhecimentos de anos anteriores. Eu não tinha nenhuma pressão sobre mim, então fiz as Olimpíadas como uma brincadeira. Claro, levei muito a sério, mas digo que foi na brincadeira porque não ficaria magoada se eu não passasse.

Depois que eu passei para a Olimpíada, foi uma época um pouco mais intensa de treinamento, porque eu estava fazendo o treinamento para uma internacional  e tinha que estudar para as provas do processo de application, aqui para os Estados Unidos. Mas de novo, eu tive muito apoio da minha escola, da minha família e dos meus amigos.

Quando eu fui para a Olimpíada, foi uma experiência muito única. Acho muito legal você ter essa oportunidade de conhecer pessoas de uma cultura diferente, de um ambiente diferente, que podem te proporcionar não só mais conhecimento técnico, mas também conhecimento cultural.  

Eu gosto muito de fazer amizades. Nessa competição, eu acho que estava bem preparada para a prova teórica, para a prova de observação – eram coisas que eu tinha me preparado muito – e para a prova de foguete, que foi o recorde que eu bati naquela época. A outra parte que foi um pouco difícil para mim, talvez uma barreira, foi a parte da prova em grupo, justamente porque meu espanhol não era dos melhores e o inglês das outras pessoas que estavam fazendo a prova comigo era inexistente, vamos dizer assim. Então, eu falava português, inglês e um pouco de espanhol, enquanto eles falavam espanhol. Essa parte de comunicação e escrita das respostas da prova teórica em grupo foi um pouco desafiadora e cada um tinha uma abordagem diferente. Também cada um tinha achado respostas diferentes na hora de resolver os problemas, então chegar a um consenso do que colocar como resposta, muitas vezes ceder o que eu tinha certeza que era correto para conseguir agregar o conhecimento e a perspectiva e a opinião das outras pessoas foi desafiador.

E a cerimônia de premiação foi algo bem emocionante também, bem intensa eu diria, porque eles fazem a premiação e ninguém sabe dos resultados. A gente não sabe das nossas notas, diferente da IOAA, por exemplo, e eles chamam de trás para frente. Então, quando eles começam com as menções bronze, prata e ouro e vão chegando mais perto, você fica mais na dúvida se foi muito bem ou se foi muito mal e não ganhou nada. Então, esse é um momento muito tenso, mas no meu ano foi muito bacana. Nós conseguimos quase todas as pessoas da equipe a medalha de ouro. Então, de todas as medalhas de ouro da Olimpíada, eu acho que só duas não foram do Brasil, e isso foi muito bacana. Assim, a gente estar unido e ter conseguido tudo isso junto foi uma celebração muito grande. 

 

[Amps] O cenário olímpico da Astronomia mudou bastante, né? Conta pra gente o que mais mudou desde a sua geração olímpica!

[Katarine]  A minha geração foi a protagonista dessa mudança. Se você olhar como eram os processos seletivos da olimpíada de astronomia antes, como eram feitos os treinamentos, eles eram coordenados sempre pelas mesmas pessoas. Por mais que essas pessoas sejam muito qualificadas, quando você não inclui diversidade para um grupo, muitas vezes você acaba não conseguindo trazer perspectivas diferentes. Então, desde aquela época, a gente tentou trazer perspectivas diferentes de pessoas que estavam em contato com conhecimentos atualizados, no sentido de que estavam fazendo Olimpíada e sabendo o que as olimpíadas estavam procurando para incluí-las dentro das coordenações.

Então, a gente fez o processo seletivo. Nós começamos com ex-olímpicos, como nós chamamos.  Era eu, o Shell, o Carrite, o Piaza, a Laís, o Juventino, o Natan. Esse processo começou com “vamos nós ajudar o processo seletivo”, que a gente percebeu que muitas vezes eles se aproveitavam de questões de outros lugares. Então, você chegava na prova já sabendo muitas vezes como resolver um problema, o que não é a ideia. Quando você vai fazer uma Olimpíada, o objetivo é desafiar, fazer novos desafios para os jovens, procurar métodos de resoluções diferentes.

Então, a gente englobou essa parte de  elaborar algumas partes da prova. Então, a gente ficou muito responsável pela parte no começo de parte da observação, parte de carta e depois, a gente começou a englobar bastante teórica, parte dos treinamentos, das listas semanais. Toda essa parte, a gente foi modificando ao longo do tempo. Eu acho que depois, nos dois, três anos em coordenação, a gente continuou trazendo mais jovens que foram destaque nas olimpíadas nos anos anteriores para dentro. Então, acho que a olimpíada de astronomia passou a ter uma perspectiva muito bacana no sentido de jovens que estão ali dentro passaram a auxiliar no processo.

Então, é algo primeiro voluntariado que você faz por paixão e não por obrigação. E eu acho que é uma ideia que a gente englobou ali, da mesma ideia que a gente trouxe no começo quando criamos o Ampulheta do Saber. Então, a ideia de como foi reestruturado o processo seletivo de astronomia foi baseada muito na minha experiência que eu tive criando a Ampulheta.

[Amps] Katarine, ser uma escoteira parece ser incrível! Queremos saber mais sobre essa vida de aventuras. Como é ser parte de um grupo que incentiva a prática de atividades ao ar livre e o aprendizado de habilidades como acampar, fazer fogueiras, fazer nós e até mesmo cozinhar em condições adversas? Quais foram as suas maiores aventuras e desafios como escoteira? E como você acredita que essas experiências contribuíram para a sua formação pessoal e profissional?

[Katarine]  Eu sou escoteira há 14 anos. Então, foram muitas histórias, com certeza não vou lembrar de todas agora. Foram muitas marcantes, muitas amizades e muito conhecimento que eu adquiri. Eu acho que uma das maiores aventuras que eu tive foi em um acampamento que a gente fez flutuante. A gente construiu jangadas e a colocou em uma lagoa gigante. A gente montou a barraca em cima dela e ficou a noite inteira flutuando. Então você está em movimento e os animais ali perto criam uma sensação bem diferente. E assim, quando você está acampando com vários amigos, muitas vezes vocês estão na mesma barraca e uma pessoa se mexe, e daí, quando se mexe, você vai ouvir o barulho na água. Foi muito legal!

Tive muitas outras experiências muito bacanas em acampamentos nacionais e internacionais com muitas atividades, onde eu pude conhecer pessoas diferentes e ser desafiada de formas diversas. O escotismo contribuiu muito para a minha formação pessoal, principalmente no desenvolvimento de valores e de ser uma pessoa que quer trazer uma mudança para a sociedade: de tornar um mundo melhor do que eu encontrei.

[Amps] Sabemos que Georgia Tech é uma das melhores universidades de engenharia do mundo, fica lá nos Estados Unidos e você acabou de se formar nesse lugar tão incrível. Será que você pode nos dar um olhar único sobre a universidade, sobre o ambiente, as pessoas, as atividades extracurriculares e, claro, os estudos!

[Katarine]  Nossa, meu coração tem um espaço muito grande naquele lugar. Eu amei muito todos os anos que pude passar lá, foi uma experiência única. Eu acho que a Georgia Tech é uma universidade muito grande, mas ela tem uma cara de universidade pequena no sentido de que os professores são muito “approachables” e você consegue chegar até eles facilmente, criar conexões e fazer pesquisas. Em outras grandes universidades com o mesmo padrão, como por exemplo o MIT, são coisas que eu fui para lá, passei um tempo lá e não percebi que eram tão fortes como em Georgia Tech. Até mesmo Stanford não tinha essa característica. Então, essa proximidade que você consegue ter com os professores é algo único de lá.

Os laboratórios que conheço mais pela minha área que eu acabei me especializando, em tecnologia, na parte de design digital, engenharia do silício, os laboratórios são incríveis. Georgia Tech, por exemplo, é uma das únicas universidades nos Estados Unidos que oferece aulas onde o aluno ainda no “undergrad” pode de fato criar seu próprio wafer de silício. E por ser perto da cidade, você consegue ter todas as facilidades de uma cidade grande, mas também viver em uma comunidade que é uma comunidade pequena, vamos dizer assim, que é a comunidade da universidade, você encontra pelo menos um amigo seu.

[Amps] Forbes Under 30, uau! Como foi a sensação de saber que você foi selecionada para essa lista incrível de jovens talentosos?

[Katarine]  A minha história com a Forbes foi bem interessante porque eu tinha como meta entrar para essa lista, mas eu não imaginei que ia ser tão cedo. E, geralmente,  para o processo seletivo da Forbes é necessário passar por um processo bem rigoroso de seleção: entrevistas, análises. Quando você tem uma empresa, por exemplo, análise de crescimento, toda essa parte e a parte de educação e ciência também, todo seu impacto. E… eu não apliquei, e eu não sei quem aplicou para mim também, então é algo que até hoje é um mistério. 

Foi muito interessante que eu estava voltando dos Estados Unidos para o Brasil, e eu recebi uma mensagem no meu LinkedIn pedindo se eu tinha tempo para fazer uma entrevista em São Paulo. E eu respondi “Tenho uma escala amanhã de 8 horas em São Paulo. Funciona para vocês? Eu posso, quem sabe, aparecer aí no escritório.” Só que eu não sabia para que era. Eu jurava, naquele momento, que era para divulgação do programa de líderes da Fundação Estudar. Então foi bem interessante quando eu fiz a entrevista e, no final, perguntei só para eu entender exatamente sobre o que nós estamos falando. E eles me falaram que eu tinha entrado como destaque na parte de ciências, educação e tecnologia da lista Forbes Under 30. E foi uma baita surpresa pra mim e pra minha família toda.

[Amps] Quem nunca sonhou em trabalhar em uma gigante da tecnologia como a Microsoft? Katarine, você acabou de ingressar em uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, mais uma vez, nossos parabéns! Arrasou! Até agora, o que mais gosta no seu trabalho na Microsoft? 

[Katarine]  Nossa, tem muitas coisas que eu amo sobre a Microsoft. E eu ainda não pude explorar nem 1% do que a empresa oferece. O campus é um lugar muito bonito aqui em Redmond. Eu moro em Seattle, mas trabalho em Redmond, então todo dia eu vou para lá e é muito bonito. A região aqui de Washington também é maravilhosa. Sou uma pessoa muito “outdoors”. Então aqui tem muito essa  cultura também, de fazer trilhas, esquiar no inverno. Então toda essa facilidade com atividades extras, eu acho muito bacana. E dentro da empresa em si, é uma empresa que busca muito que o funcionário continue estudando, continue aprendendo. Sempre buscar novos conhecimentos, novos aprendizados. 

Não existe aquele negócio de pergunta boba. Toda pergunta é muito bem aceita, todo questionamento, toda a diversidade da parte de ideias, de tecnologias também. Então é um ambiente muito inovador, um ambiente que dá acesso para você crescer. Então é basicamente uma estrutura de um campus de uma universidade. Então, essa transição não foi tão drástica de universidade para mercado de trabalho e todo o suporte que as pessoas te dão. Eu acho que isso são coisas fundamentais que me fizeram escolher essa proposta da Microsoft perante outras. E claro, o impacto que eu vou estar trabalhando na área de tecnologia. Não posso contar muito sobre o que estou fazendo, mas basicamente eu faço o design e parte da construção dos servidores dos maiores computadores e  mais tecnológicos do mundo.

[Amps] O Ampulheta do Saber trabalha há 5 anos para distribuir materiais gratuitamente em nível olímpico na internet. Você poderia nos contar um pouquinho do ínicio do projeto?

[Katarine] O início do projeto foi algo maravilhoso. Agradeço muito todas as pessoas que estiveram dando suporte para a gente, e os meus parceiros na época, né, que toparam esse desafio comigo. Foi uma época muito boa. Eu sinto muita saudade. Foi muito esforço para gente, que literalmente começamos do zero: a gente nunca tinha criado um site. A gente tinha dado algumas aulas porque éramos de olimpíada, mas não tínhamos nem dimensão do quanto impacto que a gente poderia trazer. 

A ideia do Ampulheta surgiu justamente olhando a trajetória de muitas das pessoas que foram fundadoras, que elas vieram de muitas vezes não grandes escolas, não grandes centros de olimpíadas, e você não tinha chance de conseguir competir com alguém de uma grande escola. Então, você não tinha acesso ao conhecimento, você não tinha acesso a recursos, você não tinha preparação e você não tinha cultura de olimpíada.

Então, a gente veio com esses quatro pilares aí, para a gente trazer esse conhecimento de acesso. A nossa ideia, diferente de alguns outros projetos que já existiam, era que a gente não queria melhorar o topo da pirâmide de pessoas. A gente queria criar uma base para que mais pessoas conseguissem chegar no topo. Então, surgiu com a ideia de trazer o conhecimento básico, no início de olimpíadas, para todas as pessoas. Então, a gente fez muitas campanhas, como nós chamamos, pessoas de diversas regiões do Brasil. Nós fizemos várias campanhas das nossas próprias conexões, com Olimpíadas diferentes, para disseminar essa parte do conhecimento. E foram muitas horas.

Eu lembro assim que no momento que a gente não estava em aula de olimpíada, a gente estava sempre numa das salas lá no colégio, criando materiais, criando site, tentando buscar logo, criar nomes, buscar recursos, as pessoas. Foi algo muito muito especial e eu estou muito feliz de poder ter criado esse projeto e ver como vocês hoje, colaboradores, estão fazendo por esse projeto e é maravilhoso e cada vez mais bonito o impacto que vocês estão criando.

[Amps] “Quem vê close não vê correria”: Você poderia contar um dos “perrengues” da época da fundação do nosso querido Ampulheta do Saber?

[Katarine] Nossa, foram muitos perrengues quando a gente criou a Ampulheta. Um dos primeiros foi a parte de logos, né? Como a gente ia fazer tudo isso? A parte de tornar o projeto viável, criar um site também. Ninguém nunca tinha criado um site. O Cunha tinha um pouquinho de conhecimento porque ele era da olimpíada de informática e robótica, então a gente acabou dependendo bastante dele, mas foi um perrengue bem grande. Outros perrengues depois foi a parte financeira de conseguir manter o site. A parte de conseguir pessoas. A captação de pessoas também foi algo bem intenso, porque o projeto não tinha nome, diferente de outros projetos que já existiam. Então, para a gente conseguir que pessoas de excelência, que também estavam nessa, querendo transmitir o conhecimento, elas escolhessem o nosso projeto em relação a alguns outros projetos, foi um desafio bem grande no começo. 

Outra parte que para a gente também foi muito desafiadora, foi quando a gente já estava saindo, já estávamos indo para a faculdade, e a gente tinha que conseguir passar a bola. Por mais que a gente já tivesse bastante pessoas contribuindo com o projeto, a gente sempre ficava naquele “Nossa, e se as pessoas não conseguirem dar conta do projeto? O projeto vai morrer?”. Então, isso era um grande medo que a gente tinha na época. Mas, graças a todos vocês aí, a gente tá aí ainda hoje, firme e forte, muito bacana! Parabéns! 

[Amps] O que você espera que tenhamos de mudança na educação brasileira em alguns anos? E o que seria o ideal?

[Katarine] Eu espero muito que o Brasil continue nessa linearidade que estava nos últimos anos, de crescer na parte de educação, de oportunidades olímpicas, de conhecimento e disseminar isso para a sociedade. Vejo assim, por várias gerações, como [por exemplo] a geração dos meus irmãos que estão agora na época das Olimpíadas, que a cultura que se tem em termos de olimpíadas, de conhecimento, de oportunidades, é muito diferente da cultura de quando eu estava naquela época quando a gente criou o Ampulheta. 

Então, isso é uma coisa muito bacana, pois assim como muitas vezes exemplos numa sociedade em um determinado ambiente podem estimular, professores, pais, alunos, a também continuar nesse caminho e ver que as Olimpíadas em si e a educação não são simplesmente para a sala de aula para ter um certificado, mas que elas, de fato, podem mudar uma trajetória e gerar muitas oportunidades. 

Então, eu sou muito feliz de olhar para o passado e ver o quanto que isso a gente evoluiu em termos de Brasil, em termos da região onde eu moro. E tenho muita esperança de que no futuro, assim como a nossa geração foi exemplo para a geração que está agora, a geração de vocês também possa ser exemplo e causar diferença para gerações futuras.

[Amps] Espalhar conhecimento é tudo de bom! Se você pudesse dar só uma dica para os novos olímpicos, qual seria?

[Katarine] A primeira delas é: você tem que conhecer qual é o seu melhor método de estudar e se preparar. Muitas vezes, para algumas pessoas, ir para a sala de aula, anotar tudo e prestar atenção no professor funciona melhor. Para outras, não ir para a aula, ler livros e resolver problemas é mais produtivo. E para outras, ir para a aula e não anotar nada, só prestar atenção, é o que funciona. Então, cada um tem o seu próprio método de aprendizado e estudo. É muito importante explorar todos os modos e descobrir em qual deles você é mais produtivo.

O segundo ponto é estar aberto para as oportunidades. Não se feche apenas para uma Olimpíada, se você já não está no pico da sua carreira se você passou muitos anos nessa carreira. Eu por exemplo, passei uns 7 anos me dedicando para olimpíadas de matemática e no final não foi a olimpíada que eu fui para uma internacional, justamente porque abri meus horizontes para novas oportunidades. Lembre-se de que muitas vezes há muitos trens passando e, às vezes, você está embarcando em um e ele está mais longe que o seu destino final, então, às vezes você tem que sair dele e embarcar em outro para chegar no seu destino que é o que você quer. 

Esteja aberto para outras Olimpíadas, mas também saiba focar e não tente fazer tudo ao mesmo tempo. Quando você vai fazer Olimpíada, é importante saber ter foco e aproveitar as oportunidades.

 

Infelizmente, tudo que é bom acaba 😭

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