Introdução
Já pensou em aprender mais sobre o processo seletivo para as Olimpíadas Internacionais de Química? Durante a seletiva, não são exigidos apenas conhecimentos técnicos em química, mas também outras habilidades fundamentais, como a interpretação de questões complexas e o gerenciamento de tempo. Essas competências são essenciais para alcançar um bom desempenho nas diversas etapas das competições.
Neste guia para as Olimpíadas de Química, oferecemos uma visão completa de como funciona o processo seletivo, desde as primeiras fases, como a OBQjr (Olimpíada Brasileira de Química Júnior) e as fases estaduais da Olimpíada Brasileira de Química (OBQ), até as Seletivas para Olimpíadas internacionais de Química, como a IChO (International Chemistry Olympiad) e outras olimpíadas internacionais de prestígio.
O que é a OBQ?
Primeiramente, devemos falar sobre o programa nacional de olimpíadas de química, PNOQ. Essa organização é a responsável pela direção e aplicação dos testes que selecionam os alunos que representarão o Brasil em olimpíadas internacionais de química. Assim, a Olimpíada Brasileira de Química (OBQ) é o coração do PNOQ haja vista que dela sairá o time Brasil de diversas competições internacionais.
E o que são essas Olimpíadas Internacionais?
As Olimpíadas Internacionais de Química são competições organizadas anualmente, cada vez em um país diferente. Delegações de dezenas de países participam dessas Olimpíadas todos os anos. Nelas, os alunos passam alguns dias na sede do evento, realizando provas teóricas e práticas de química, conhecendo a cidade que está sediando o evento e interagindo com os melhores estudantes de química de todo o mundo. Essas olimpíadas são oportunidades únicas de conhecer novos lugares, pessoas e culturas, além de ser uma maneira divertida de testar e aprimorar os seus conhecimentos em química, além de ser uma oportunidade de representar o seu país no exterior e ganhar medalhas, é claro.
Atualmente, o Brasil participa de 3 Olimpíadas Internacionais todos os anos:
- Olimpíada Ibero-americana de QUímica (OIAQ): é uma competição realizada anualmente entre jovens iberoamericanos estudantes de química. O Brasil costuma ser um grande destaque na competição.
- Olimpíada Internacional de Química de Mendeleev (IMChO): é uma competição realizada desde 1992 e é considerada uma das olimpíadas de química mais desafiadoras do mundo. O Brasil participa desde 2023 e sediará o evento em 2025.
- Olimpíada Internacional de Química (IChO): é a competição de maior prestígio dentre as olimpíadas de química. É realizada anualmente desde 1968.
Viu só as oportunidades que participar de olimpíadas de química pode te proporcionar? Vamos então detalhar melhor sobre como começar essa jornada, começando pela OBQ.
Um pouco mais sobre a OBQ
Ela possui modalidade A (alunos o 1° e 2° ano do EM), de onde saem os alunos classificados para as Seletivas para Olimpíadas Internacionais de Química, e a modalidade B (alunos do 3° e 4° ano do EM)
A OBQ conta com 3 fases. As duas primeiras são estaduais, cabendo a cada estado selecionar os estudantes que o representarão na Fase III, que é a fase nacional. Depois da fase III, os estudantes selecionados participarão das Seletivas para Olimpíadas Internacionais de Química, que são compostas pelas Etapas I, II, e III.
Vale lembrar que, além das fases estaduais, há outras formas de ingressar na Fase III. O regulamento da OBQ fala sobre essas outras formas de ingresso:
- Todos os estudantes do 9° ano que obtiverem medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Química Júnior (OBQjr) no ano anterior serão inscritos na Fase III da OBQ – Modalidade A.
- Todas as estudantes que obtiverem medalhas de ouro regionais estarão automaticamente inscritas na OBQ – Modalidade A (para alunas do 9º e 1º ano) e modalidade B (para alunas do 2º ano).
- Todos os estudantes da 2ª série agraciados com medalhas de ouro na Olimpíada Brasileira de Química (OBQ) – Modalidade A, do ano anterior, serão inscritos na Fase III da OBQ – Modalidade B.
Detalharemos as diversas fases da OBQ e a OBQjr a seguir.
Como funciona a OBQjr?
Entrando mais no mérito de como entrar para a OBQ fase III, já foi discutido que existem duas maneiras: Fases estaduais (fases I e II) e a grandiosa OBQjr. Aqui, detalharemos como funciona todo o processo da OBQjr.
A OBQjr é uma olimpíada que atualmente é voltada para alunos do ensino fundamental II (6° ao 9° ano). Dessa maneira, o conteúdo abordado por ela não passa do básico de química geral e um pouco de inorgânica.
Ela, recentemente, tem sido realizada em duas fases de caráter 100% online. Na 1° fase temos uma prova com 2h de duração e 20 questões objetivas para o aluno responder. Ao passar para a 2° fase o aluno irá responder a uma prova com 20 questões objetivas e 3 questões abertas em 3h. Note que na 2° fase, as questões objetivas valem 40 pontos enquanto as 3 abertas valem 60 pontos dos 100 totais do teste.
A premiação é feita na proporção 1:2:3 de medalhas de ouro, prata e bronze. Assim, atualmente, temos 50 ouros, 100 pratas e 150 bronzes, além de 700 menções honrosas. Como dito anteriormente, para o aluno ir para a fase III da OBQ, ele deve estar no 9° ano e ter obtido medalha de ouro na OBQjr.
Como funcionam as seletivas estaduais?
As fases estaduais são outra forma de se classificar para a fase III da OBQ. Elas não estão sob direção direta do PNOQ, mas sim das coordenações estaduais de cada estado. Assim, apesar de o PNOQ disponibilizar um teste universal para todas as coordenadorias estaduais, elas podem escolher se vão usar o teste como seu processo seletivo ou se farão dele apenas uma fase do processo geral. Por esse motivo, o processo seletivo pode variar de estado para estado. Por isso, é bom checar o site da estadual do seu estado ou perguntar ao seu coordenador para saber como é o processo específico adotado no seu estado.
As fases estaduais geralmente estão mais voltadas para alunos do ensino médio, o que faz com que o conteúdo pragmático se pareça muito com os conteúdos de vestibulares nacionais. Apesar disso, alunos de 8° e 9° ano também podem participar.
Exemplo real
Agora, para ver como funciona o processo de uma estadual real, vamos pegar o exemplo da seleção do estado de São Paulo. Para classificar-se para a segunda fase da regional de São Paulo, há 5 “caminhos”: a redação, o vestibular como treineiro para a FUVEST, o Torneiro Virtual de Química, a Olimpíada Regional de Química e a seletiva estadual unificada.
- A redação classifica 150 alunos para a fase II, sendo 85 da 2ª série ou anterior e 65 da 3ª ou 4ª série do ensino médio técnico. A redação é dissertativa-argumentativa com um tema a cada ano.
- O vestibular da FUVEST classifica os 40 melhores treineiros paulistas inscritos nas carreiras de Biológicas ou Exatas.
- O torneio virtual de química seleciona 8 estudantes, sendo 4 do 1º ano e 4 do 2º ano.
- A Olimpíada Regional de química indica 4 paulistas para a segunda fase.
- A seletiva estadual unificada seleciona 60 estudantes da 2º série ou anterior e 40 estudantes da 3º série ou 4 ano técnico para a segunda fase.
Os alunos selecionados para a segunda fase, competem em seus respectivos níveis em uma prova realizada em um sábado na primeira semana de junho no Instituto de Química da USP.
Para 2ª série ou anterior, são distribuídas 10 medalhas de ouro, 20 de prata e 40 de bronze para os melhores colocados. Para 3ª ou 4ª série, são distribuídas 6 medalhas de ouro, 14 de prata e 30 de bronze. Totalizando 120 medalhistas que serão convocados para a fase III da OBQ.
Para agraciar os primeiros lugares de cada nível, os prêmios Professor Geraldo Vicentini e Talentos são dados respectivamente para os melhores colocados da 2ª série ou anterior e 3ª série. Além disso, temos o prêmio mulheres destaca as melhores estudantes de cada nível, e o prêmio destaques agracia os melhores estudantes das escolas públicas de São Paulo.
Caso você faça a fase estadual de um estado pertencente à região norte ou nordeste do Brasil, você poderá se classificar para a ONNEQ (Olimpíada Norte e Nordeste de Química). O conteúdo abordado nessa olimpíada se parece muito com o da mod B da fase III. A ONNEQ não é classificatória para nenhuma outra olimpíada e existe para incentivar o conhecimento olímpico nas regiões norte e nordeste do país. Nela, os 15 melhores recebem medalha de ouro, outros 30, medalha de prata, e 45 bronzes.
Viu só como os processo seletivos de cada estadual podem ser diversos? Não deixe de conferir o regulamento da sua estadual para saber mais detalhes sobre isso.
Como funciona a OBQ fase III?
A fase III é a tão querida fase nacional. A Fase III é constituída de exames teóricos (distintos para cada modalidade) constando de 15 a vinte 20 questões objetivas e de 5 a dez 10 questões analítico-expositivas, com pesos compatíveis, de acordo com o nível de dificuldade da questão. Com uma duração de 4 horas, a Fase III é uma prova de agilidade, já que são poucos minutos para cada questão e as questões abertas costumam ter muitos itens.
Cada aluno pode receber, no máximo, 100 pontos, e a distribuição de pontos entre questões objetivas e abertas pode variar em cada edição. Além disso, a pontuação da fase III é parametrizada de acordo com a melhor performance, ou seja, se você tirou 75 pontos na prova, mas o melhor estudante fez 90 pontos, sua nota é 83,3. Vale ressaltar que, na parte objetiva, errar uma questão gera penalizações na pontuação do aluno. Assim, “chutar” não é uma ideia recomendável.
Na fase III existe uma subdivisão entre mod A e mod B. Na mod A temos a abordagem de conteúdos de química geral, físico-química (incluindo eletroquímica) e química inorgânica. Na mod B, temos o mesmo conteúdo da mod A, além de química orgânica.
A premiação da fase III agracia os estudantes com melhores notas com medalhas de ouro, prata, bronze e certificados de menção honrosa. A proporção é de 1:2:3 em medalhas de ouro, prata e bronze respectivamente, atualmente são 20 ouros, 40 pratas e 60 bronzes. O número de medalhas pode ser aumentado se houver diferença de menos de 1% entre as notas dos dois últimos agraciados. Além disso, os alunos agraciados com medalhas na mod A estão classificados para as Seletivas para as Olimpíadas Internacionais de Química.
Dicas
O uso de livros de Ensino Superior de química geral tem o objetivo de melhorar a compreensão de conceitos que, normalmente, são explicados de maneira superficial no Ensino Médio , como as ligações químicas e os modelos atômicos. Além disso, o seu uso ajuda a entender melhor, por exemplo, a físico-química, por apresentar a visão termodinâmica do assunto, a qual não é abordada normalmente, como entropia e energia livre de Gibbs.
Algo notável é que, mesmo não sendo abordado na mod A da fase III, é bom começar a criar uma base em orgânica desde cedo. Isso porque, nas fases posteriores da seletiva, orgânica se torna facilmente um dos conteúdos mais difíceis e abordados da prova. Assim, nunca esqueça a orgânica.
Como funcionam as Etapas I, II e III
As etapas I, II e III fazem parte da Seletivas Internacionais do Programa Nacional Olimpíadas de Química (PNOQ). Elas são as etapas mais definidoras no processo de seleção para as olimpíadas internacionais de química.
Quem participa?
Primeiramente vamos falar sobre quem se classifica para participar das Seletivas:
- Os medalhistas da Olimpíada Brasileira de Química (OBQ) – Modalidade A do ano anterior.
- 50 medalhistas de ouro da Olimpíada Brasileira Feminina de Química (Quimeninas) do ano anterior, distribuídas da seguinte forma: dez estudantes por região brasileira, sendo seis da 2ª série do Ensino Médio e quatro da 1ª série do Ensino Médio.
Etapa I: Curso de Nivelamento On-line
O Curso de Nivelamento On-line é um curso de formação de caráter opcional, com duração de duas semanas. Como o nome já sugere, ele é realizado no formato online e tem como objetivo nivelar os conhecimentos dos participantes. O Curso abrange tópicos selecionados do syllabus (matérias a serem estudadas) da Olimpíada Internacional de Química (IChO), para garantir uma base sólida de conhecimentos aos participantes.
Apesar de ter caráter não obrigatório, é essencial que os alunos participem desse curso, pois isso pode auxiliá-los a selecionar melhor os conteúdos a estudar com mais aplicação antes da Etapa II.
Etapa II: Primeira Prova de Seleção
Essa Etapa seleciona os estudantes que participarão da Etapa III e também seleciona os estudantes que participarão
da Olimpíada Internacional Mendeleev de Química (IMChO).
Ela consiste em uma prova discursiva de 4 horas de duração com 6 a 8 questões elaboradas nos moldes da IChO. O conteúdo programático da Etapa II é baseado no syllabus da IChO. Você pode até pensar que 6-8 questões é pouco para 4 horas. Contudo, deve-se levar em conta que cada questão dessa tem muitos itens e que elas são de alto nível.
O nível da Etapa II é, sem dúvidas, um nível consideravelmente além do ensino médio. Isso porque o conteúdo a ser abordado na etapa II, como mencionado, é baseado no syllabus da ICHO, o que significa que tudo que é cobrado na mod B da OBQ, com a adição de orgânica avançada e outros conteúdos específicos, pode cair. Mas calma! Não se desespere! O Curso da Etapa I vai te mostrar os principais assuntos que serão cobrados na Etapa II. Portanto, concentre-se neles!
Bons exemplos de conteúdos “novos” que são abordados na Etapa II são:
- Cromatografia
- Iodometria
- Espectrofotometria
- Testes orgânicos
- Marcha analítica
- Nome de vidrarias e equipamentos de laboratório
- Permanganometria
Etapa III – Curso de Formação Presencial e Prova de Seleção Final
Nessa Etapa, o top 20 da Etapa II tem 14 dias de aulas com professores universitários de universidades parceiras do PNOQ. No ano de 2025, a Etapa III será realizado de 5 a 17 de maio na USP. A participação no Curso é de caráter obrigatório para aqueles que desejam continuar no processo de seleção para as Olimpíadas Internacionais.
As aulas do Curso da Etapa III versam sobre os conteúdos do syllabus da ICHO e pela resolução dos problemas preparatórios da IChO do ano em questão e aprofundamento no conteúdo abordado por eles.
Mas afinal, o que seriam esses problemas preparatórios? Os problemas preparatórios são problemas montados pela comissão organizadora da IChO que abordam um conteúdo que pode cair na competição. No início dele temos uma parte dizendo o que será e não será, abordado na internacional. Por isso, essa lista de questões é como um guia tanto para a IChO em si quanto para a Etapa III.
A primeira semana do Curso da Etapa III é composta por aulas teóricas pela manhã e aulas de laboratório à tarde. Já na segunda semana, os alunos terão aula teórica o dia todo na segunda e na terça-feira. Já na quarta haverá prova teórica e na quinta haverá prova prática. Na sexta haverá a arbitragem da correção, feira pelos próprios alunos. Finalmente, na sexta-feira, haverá o resultado final da Etapa III. A nota final do estudante na Etapa III será composta pela ponderação de 40% para a parte prática da prova e 60% para a parte teórica da prova.
O prova teórica da Etapa III consiste em uma prova com duração de 5h, sendo um teste no estilo IChO. Com 7-10 problemas em média, com vários itens em cada questão. Uma prova estilo IChO tem mais de 40 páginas.
As questões no estilo IChO podem ser objetivas ou discursivas. As questões discursivas são feitas de forma que não há argumentação com palavras mas sim com símbolos. Isso tem dois motivos: a prova é muito corrida e em um âmbito internacional os corretores, os quais são do país organizador, nem sempre saberão nossa língua. Então, não escrevemos algo “como a energia livre de gibbs é positiva” mas sim “Delta G > 0″.
Além disso, no estilo IChO, os problemas correspondem a uma porcentagem da nota total de 100. Os problemas têm escores individuais , de forma que, para calcular a nota, devemos somar os escores individuais da questão, calcular a porcentagem feita na questão e calcular o quanto isso equivale na prova.
Por exemplo, o problema 1 da fase VI 2021 (até 2024, a Etapa III não tinha uma parte prática, consistindo somente de uma prova teórica nos moldes da IChO, sendo até então chamada de Fase VI) equivalia 14% da prova e tinha 7 itens. A nota máxima no problema era 100, sendo que cada item tinha sua pontuação específica. Suponha que você faz 80 escores de 100. Isso equivale a 80/100*14=11,2 pontos da prova.
Ao final da Etapa III, os alunos que ficarem entre 1º e o 4º lugar serão convocados para a IChO. Já os que ficarem entre 5° e 8° lugar serão convocados para a Olimpíada Ibero-Americana de Química (OIAQ). É importante notar que a nota que conta para o resultado da Etapa III é unicamente a nota das provas teórica e prática da própria Etapa III, não sendo consideradas as notas das provas anteriores (fases I, II e III da OBQ e Etapa II das Seletivas).
E esse é o fim dessa jornada lendária da seletiva de química que um aluno percorre desde uma olimpíada estadual, ou OBQjr, até uma internacional.
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Para as últimas informações das Olimpíadas de Química, acesse o site oficial da olimpíada PNOQ.
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